Didática significa a arte de ensinar. Em outras palavras, é a elaboração de recursos e estratégias por parte daquele que ensina para que sua instrução possa ser claramente compreendida.

Por sua vez, ensinar significa transmitir conhecimento ou no mínimo, organizá-lo de tal forma, que o aluno possa resgatar o que já lhe pertence, mas que ainda não se tornou visível, em termos populares de antigamente: “fazer cair a ficha”. Para que possamos nos intitular professores, temos que levar em consideração a responsabilidade deste título. Professor é aquele que ensina e por traz da palavra educação está a idéia de auto conhecimento, liberdade e autonomia. Professor não é um demonstrador, demonstração é um recurso que às vezes pode ser útil. Professor não é o reprodutor de uma série e nem àquele que condiciona seus alunos a seguir seu comando. Professor é aquele que planeja a sua ação pedagógica, aplica e depois avalia. Somente ele sabe de todas as etapas do processo de ensino. Os alunos talvez só percebam a coerência das aulas no final deste processo. Um bom professor estimula seus alunos e os prepara para que eles sigam seus estudos individualmente. Ele propõe desafios que possam ser conquistados, respeitando as dificuldades de cada um. O bom professor se mantém atualizado e é coerente com aquilo que ensina, sabe falar e ouvir sempre que necessário. Não podemos confundir professores de yoga com os antigos “gurus”. As realidades e as culturas são diferentes. Nossas academias de yoga não são “ashrams” (monastérios), nossos alunos não são discípulos e as mensalidades não são doações. Somos prestadores de serviço e devemos fazê-lo da forma mais honesta possível, com responsabilidade e respeito à tradição. O sistema de aulas para várias pessoas ao mesmo tempo é uma realidade do yoga moderno, assim como aulas on line, aulas para pacientes hospitalizados ou mesmo alunos particulares. Os antigos textos do Hatha Yoga, não fazem referências sobre didática, os discípulos moravam junto com mestre, partilhando o saber daquele que já havia passado pela experiência. Seguramente o “guru” não reunia seus discípulos na clareira da floresta para conduzir uma prática de yoga como nos dias de hoje, com tom de voz brando, falando o tempo todo para elevar um braço, flexionar uma perna ou girar o tronco. Nós, professores de yoga, temos que ter cuidado com o que ensinamos, muitas vezes, estamos condicionando nossos alunos a seguir nosso comando, sem darmos a eles a oportunidade de experimentarem o prazer de uma prática auto-comandada. Meu primeiro pensamento a este respeito veio numa aula na Universidade de São Paulo, quando pedi aos alunos que relaxassem e depois de 3 minutos em silêncio, uma senhora me disse que não estava ouvindo. Eu respondi a ela que não estava falando e ela retrucou, dizendo: “Então como vou relaxar se você não conduzir?” Penso que temos que criar momentos durante a aula, onde o aluno se sinta o dono de sua prática. Que ele tenha a oportunidade de seguir o comando interno que dirá a ele naquele dia, qual é o ritmo adequado, qual é a amplitude correta, qual o tempo de permanência ideal para cada exercício e com o tempo de prática, que ele consiga inclusive, determinar qual a série mais indicada para as suas necessidades. A aula conduzida tem características diferentes da prática em casa, o aluno perceberá que nas aulas em conjunto ele aprende e tem experiências que o orientarão posteriormente nas práticas individuais. Engana-se o professor que acha que vai perder o aluno, quando este começar a fazer yoga em casa, sozinho. Este aluno vai sempre sentir a necessidade de um contato com o grupo e com o professor. Nós perdemos o aluno que começa a praticar menos, aquele que pouco se envolve com as práticas. É preciso perceber o que está por traz dos asanas. Não é a execução de uma postura perfeita e totalmente alinhada que nos interessa. Estamos interessados no que podemos ensinar através destas posturas, pois elas carregam conceitos importantes para a nossa vida. Os elementos que treinamos através dos asanas e que são totalmente individuais são:

1) Ritmo – Cada um deve executar os movimentos que o levam até a postura e o trazem de volta no seu próprio ritmo. Um não deve copiar o ritmo do outro. O ritmo varia de movimento para movimento, de pessoa para pessoa e de dia para dia. Em Yoga, o ritmo é a velocidade constante do início ao fim que se determina para um movimento, que possibilite controle e que seja agradável. No mínimo, o ritmo é um movimento observado. O ritmo garante a qualidade da concentração durante a prática. Movimentos feitos com impulsos e solavancos distraem o praticante.

2) Amplitude – É a mobilidade (articular) associada à flexibilidade (muscular) que permite ao praticante movimentar-se até determinados limites. Em Yoga a amplitude não é o máximo possível, mas é o máximo confortável. Talvez uns 85% do máximo possível. Cada um deve executar os movimentos na sua amplitude sem ter uma referência externa, ou seja, o padrão de execução é interno. O que deve orientar o praticante com relação à amplitude é uma sensação. Numa aula em grupo, independentemente do limite, todos devem ter a mesma sensação.

3) Permanência – É mais do que a simples capacidade de se manter no asana (postura). Permanência é um estado de presença. Estar presente significa estar consciente da maior quantidade possível de informações que chegam ao sistema nervoso central naquele momento. Manter-se na postura pensando no que vai fazer mais tarde ou se lembrando do que lhe aconteceu ontem, é ausência. Os que não conhecem Yoga, podem confundir o estado de presença com um estado de ausência, achando que no momento em que o praticante se encontra imóvel numa determinada postura, que no seu silêncio, ele está fora, mas nunca esteve tão dentro.

4) Descanso – É o tempo necessário entre uma técnica e outra, onde praticante observa o efeito do que foi realizado. Não é simplesmente para descansar, é o momento em que escutamos. Neste diálogo entre o corpo e a mente, durante a execução do exercício nós “falamos” e durante o descanso, nós “ouvimos”. Hoje em dia nós falamos muito e ouvimos pouco. Temos que desenvolver a observação passiva.

5) Série – Com o tempo, cada um vai reconhecendo o efeito das técnicas em si mesmo, desenvolvendo a capacidade de aplicá-las às suas necessidades do momento. Não faz sentido para um praticante antigo, que alguém lhe diga o quanto deve ficar numa postura, ou mesmo, quais as posturas que ele deve fazer naquele dia. O corpo nos diz se precisamos mais de relaxamento, mais de alongamento posterior ou anterior, basta que cada um saiba perceber. E o que está por traz destes elementos que estão por traz dos asanas? Por traz do ritmo está o movimento controlado, observado, atenção plena. Por traz da amplitude está o reconhecimento das nossas limitações e auto estima. Por traz da permanência está o estado de presença. Mente e corpo juntos. Por traz do descanso está a capacidade de perceber e ouvir.

Desta forma temos os asanas como ferramentas importantes que vão treinar elementos importantes no caminho da meditação. Se você é professor de Yoga, recomendo que faça sempre esta pergunta para si mesmo: O que eu ensino para meus alunos? O que eu ensinei nesta aula que acabei de dar? Se você é aluno de Yoga recomendo que faça sempre estas perguntas a si mesmo: O que eu aprendi com esta aula de hoje? Por que eu pratico Yoga? Para concluir, lembre-se que um dos princípios da prática dos asanas é a estabilidade e um dos sinônimos de estabilidade é a imobilidade. Porém, não confunda imobilidade com inatividade. A atividade que mantém você imóvel é a atividade que nos interessa em Yoga. A coordenação dos impulsos neuro-musculares para manter o praticante imóvel com o menor esforço possível, exige treino. É como um peãozinho, daqueles que brincávamos quando crianças. À distância parece imóvel, tal é o equilíbrio em que se encontra, mas existe uma atividade por traz desta aparente imobilidade e esta atividade é Yoga. É isto que tanto treinamos: Estabilidade com Conforto.

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