Meditação e o ambiente corporativo
Coautor Carolina Rojo Rodrigues
Se você ainda não pratica meditação ou se não parou para entender o funcionamento da sua mente, isso é uma questão de tempo. A meditação tem ganhado cada vez mais espaço e relevância devido a necessidade de manter a saúde mental perante as adversidades que as pessoas têm experienciado.
Práticas de atenção deixaram de ser algo restrito para monges tibetanos, yogues do Himalaia ou pessoas que se retiravam da sociedade, abdicando do conforto de suas casas para se dedicar ao autoconhecimento nas florestas.
Meditação e o ambiente corporativo pareciam instâncias muito distantes uma da outra, mas já vem mostrando suas similaridades. Em um caso, fazemos a imagem de um Monge, de vestes alaranjadas ou vermelhas, com uma feição pacífica, sentado de pernas cruzadas em um ambiente montanhoso envolto de natureza, já em outro, a imagem de um empresário, de terno e gravata, sem tempo, impulsionado por um ritmo acelerado e por resultados. Estes personagens mostram um passado, pois hoje já podemos ver monges morando em centros urbanos, e empresários cada vez mais dedicados à saúde e bem estar, tanto físico como mental.
Não é difícil encontrarmos hoje escolas que ensinem a meditar ou relaxar. A busca por estes aprendizados tem crescido muito, conforme conversava com uma amiga esses dias, ela se mostrou espantada com a quantidade de academias de yoga que encontrou em Nova York, “tem uma a cada esquina”.
Mas por que a meditação tem se tornado um tema cada vez mais atual permeando o nosso cotidiano urbano, alcançando inclusive quem não tem como meta a busca espiritual?
Pode-se dizer que um dos motivos é a enorme quantidade de pesquisas neste campo. A ciência demonstrou de diversas formas os efeitos da meditação, deixando-a mais aceitável para a mentalidade ocidental que sente a necessidade dessas comprovações, aproximando assim o oriente e o ocidente, isto é, as práticas milenares com pesquisadores atuais. O próprio Dalai Lama contribuiu e continua contribuindo estimulando pesquisas nesta temática de mente e cérebro.
Falando diretamente de meditação, ela pode ser descrita como uma prática que engloba um conjunto de técnicas que buscam treinar a focalização da atenção (Shapiro, 1981). Resumindo, a meditação treina e estimula a nossa atenção. E, por isso, temos visto tantos resultados positivos para praticantes de meditação. Coloco aqui alguns exemplos de estudos na área.
Tem um artigo super atual, realizado no Hospital Israelita Albert Einstein em São Paulo, com pessoas que trabalham na área da saúde neste período pandêmico de COVID-19, onde foi aplicado uma prática que estimula atenção e concentração no local de trabalho. O efeito desta prática com os funcionários que participaram deste experimento foi comprovado logo após um mês, quando os estudos demonstraram que os participantes estavam mais atentos, e após 2 meses de prática relataram um sono melhor e redução no estresse, entre vários outros efeitos em tomadas de decisões e identificação de riscos. (Kozasa, 2020).
Um outro estudo, publicado pela revista Frontiers in Psychology por Lacerda em 2018, demonstrou a eficácia de uma prática de redução de estresse, ao constatar, após 8 semanas, o aumento de atenção e alívio do estresse e também da ansiedade e depressão.
Conversando com uma querida amiga, Gabriela Vicari, sócia-diretora do maior grupo de conteúdo para o setor de tecnologia do país, ela me contou sobre um assunto que já está rondando alguns grandes empresários, dizendo que ouviu em uma reunião de trabalho a seguinte frase: “todas as empresas dão muito valor e investem em tecnologia para otimizar processos dentro das empresas, mas poucas pessoas estão dando valor a maior tecnologia já desenvolvida neste planeta, o corpo humano”. Me alertando que, quem souber utilizar o corpo humano, em especial a mente, terá uma vantagem profissional. A Vicari pratica breves meditações às manhãs e à noite, e relata que estes são momentos chaves em que faz pedido por respostas internas, e no silência alcançado consegue visualizar como será o dia, pontos para levar maior atenção e, principalmente, manter o equilíbrio emocional necessário para lidar com as atividades a desempenhar. Como se nestes momentos de meditação, saltasse a mente tudo o que ela precisará olhar com mais atenção.
Já temos visto que as empresas, de modo geral, tem buscado tecnologia, transformação digital para auxiliar nos processos, ajudando na organização e trazendo entre diversos fatores, mais objetividade nos processos. É um pensamento constante, “como otimizar os processos e deixar as entregas mais rápidas e assertivas” para que o plano estratégico seja aplicado cada vez de forma mais rápida e com menos custo, tudo o que auxiliar nesta entrega de forma rápida e objetiva, poupando o tempo dos processos, é algo importante, a garota dos olhos de qualquer diretor de empresa. Isto já está bem consolidado e aceito entre os diretores empresariais.
O que não foi muito visto pelos CEOs, mas está começando aos poucos a ganhar seu espaço, e o que fará a meditação cada vez mais permear o dia a dia do ambiente corporativo, é perceber que a otimização de processos pode começar com treinamento na mente de cada colaborador. Isso mesmo, nós nos concentramos nos processos externos, mas se a mente de quem opera estes processos não estiver bem treinada, ainda sofrerá o risco de erros e por conseguinte, retrabalhos.
O tempo está cada vez mais caro e mais importante. Como utilizar o tempo é algo que tem que ser estudado com sabedoria. Em uma conclusão mais descuidada, pode parecer que para ganhar tempo é necessário desempenhar mais atividades em menos tempo. Mas será que é assim mesmo? Ou será que o que precisamos, na verdade, é estarmos mais focados para sermos mais assertivos?
Vamos pensar em uma história possível: um empresário casado acorda cedo em sua casa, e logo de manhã vê que seu filho pequeno não está se sentindo muito bem. A mãe fica preocupada e na dúvida se deve ou não levá-lo à escola. Mas como fazer se ambos trabalham? Será que os avós podem ficar com a criança? O empresário defende a ideia de que o melhor é levá-lo à escola, a esposa acha melhor deixá-lo nos avós. Até chegarem em uma decisão já são 9h da manhã, muito além do horário que ele esperava chegar no escritório. Ele chega então querendo dar conta de tudo o que já estava programado para fazer no dia. Até esse momento, ele já vai ter razões suficientes para querer compensar o tempo perdido e entrar em um mindset de atraso e ansiedade. O ambiente mental dele fatalmente influenciará as decisões tomadas por ele e sua equipe. Neste caso, ele não conseguiu separar a vida pessoal da profissional e muito menos ter a mente isenta para tomar as decisões no momento. O que foi decidido neste dia irá desencadear em uma série de decorrências. E por mais que os processos tenham antes sido planejados de uma forma assertiva, agora por uma questão pessoal, o projeto começa a correr riscos de retrabalho, não pela falta de tecnologia, de conhecimento profissional ou de uma boa estratégia, mas sim de uma inabilidade de lidar com os próprios pensamentos e emoções.
Se este empresário tivesse o padrão de meditar no final da tarde, ou ao acordar, por em média 20 minutos poderia organizar seus pensamentos e necessidades de atenção no dia, poderia ter poupado o tempo de retrabalho. Vocês estão entendendo agora o ponto que quero chegar e a importância da meditação para o ambiente corporativo?
Será necessário organizar nossos pensamentos, ter mais conhecimento sobre os processos mentais, e aprender a lidar com nossas emoções, e quem tiver estas qualidades terá vantagens no ambiente profissional, assim como pessoal.
Espero que esta breve conversa possa ter acendido uma vontade ou pelo menos uma curiosidade sobre a prática da meditação. Por que você não dá uma chance e treina meditação? Como um incentivo, coloco em anexo um áudio com uma breve meditação, de mais ou menos 3 minutos, guiada pela Elisa Kozasa.
Uma meditação guiada pode ser um ótimo começo, mas para quem quiser incorporar a meditação na rotina poderá partir para o bom e tradicional método de ficar quieto e parado, sem estimular os pensamentos. Lembrem-se, como falamos acima a meditação treina a nossa atenção, então não deixe os pensamentos à deriva, mantenha a sua concentração em um ou mais itens, um item muito comum de se concentrar ao meditar é a respiração.
Segue aqui algumas dicas, para facilitar o processo da meditação:
– Programe um horário para a meditação, se possível de manhã ou de noite, melhor ainda se for os dois, mas não marque no meio do dia pois pode aparecer imprevistos e impossibilitar a prática. A data que agendou para meditar, medite, não fure, faça como programou. Este é o primeiro passo.
– Escolha um espaço para meditar, se não der para ser na sua casa, que seja no carro, ou no trabalho, algum ambiente que fique confortável, que seja harmonioso e silencioso, o silêncio é importante principalmente para meditantes iniciantes.
– O corpo tem que estar em uma postura confortável, não queira meditar se o corpo dói na postura escolhida. Meditação não é faquirismo. Mas também não faça meditação deitado, não vai dar certo, você precisa estar desperto, então também não pratique quando estiver caindo de sono…
– Não brigue com seus pensamentos, se a mente estiver agitada, observe a sua mente, pois quanto mais você conversar com seus pensamentos para pararem de pensar, mais estará pensando. E fique atento, pois todos nós temos um quê narcísico de achar muito importante o que pensamos, na meditação baixamos a nossa bola, e trocamos a importância dos pensamentos pelo silêncio e conforto interno, neste estado a mente se organiza.
Boa prática!!
SHAPIRO, D. Meditation: Clinical and health-related applications. The Western Journal of Medicine, 134(2), 141-142, 1981
KOZASA, Elisa H. An Intervention to Increase Situational Awareness and the Culture of Mutual Care (Foco) and Its Effects During COVID-19 Pandemic: A Randomized Controlled Trial and Qualitative Analysis. São Paulo: Frontiers in Psychiatry, 2020.
LACERDA, Shirley S. A Stress Reduction Program Adapted for the Work Environment: Randomized Controlled Trial With a Follow-Up.São Paulo: Frontiers in Psychiatry, 2018
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