Este foi o título de um artigo científico que publicamos em 2017 e teve uma grande repercussão, inclusive na mídia leiga. Mas o que de fato quer dizer este título?
Vou começar contando um pouco como chegamos no estudo. Em 2005 a professora Sara Lazar da Harvard Medical School tinha publicado o primeiro estudo indicando que pessoas que meditavam a pelo menos 10 anos tinham o córtex cerebral mais espesso do que quem não meditava, em áreas de atenção e interocepção (córtex pré-frontal e ínsula). Neste estudo ela tinha indícios de que os participantes mais idosos tinham uma maior diferença nesta espessura, mas sem uma diferença estatisticamente significante porque não havia muitos sujeitos para chegar a esta conclusão. Quando a encontrei em um simpósio a convidei então para colaborar numa pesquisa que comparasse apenas idosos.
Uma vez que seria mais fácil conseguir praticantes de longo tempo de yoga do que meditação, fomos atrás de yogis e yoginis. Ao avaliarmos, 95% dos voluntários que apareceram eram mulheres então ficamos apenas com elas na comparação com não praticantes. Todas tinham nível superior e isto nos preocupou, pois talvez não encontrássemos diferenças entre os dois  rupos, uma vez que a escolaridade é uma das coisas que mais protege nosso cérebro no processo de envelhecimento. Mas no final, encontramos diferenças em regiões de atenção e memória operacional (aquela memória que usamos quando por exemplo temos que lembrar um cpf ou número de telefone para fazer um pix), no córtex pré-frontal: as yoginis tinham estas áreas mais espessas que as não praticantes.
Ficamos muito felizes com o resultado deste estudo que foi doutorado do Rui Afonso, e publicamos na Frontiers in Aging Neuroscience, uma importante revista da área. Para nossa surpresa houve grande interesse não apenas da mídia nacional, como também da mídia internacional de diversos países e fomos parar em um blog do World Economic Forum!
O ideal seria que tivéssemos acompanhado as yoginis antes de começar a praticar até que elas chegassem aos 8 anos de prática no mínimo (critério do estudo), para termos certeza do quanto a prática do yoga foi o diferencial para a espessura do córtex cerebral, mas isto não foi possível (imagine o custo de acompanharmos por no mínimo 8 anos voluntários de uma pesquisa!). De qualquer modo, a prática do yoga parece ter um efeito protetivo no cérebro. Em um segundo estudo com o mesmo grupo, que foi doutorado do Danilo Santaella, verificamos que elas também tinham uma maior conectividade funcional entre áreas anteriores e posteriores do cérebro, o que indica uma maior preservação cognitiva.
Nos próximos boletins vamos trazendo mais estudos para discutir.

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